quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Próximas apresentações:




Próximo final de semana faremos 3 apresentações na "mostra hífen de pesquisa cena", que está acontecendo no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Sexta e sábado (dias 10 e 11), as 19h e domingo (dia 12) as 18h!

Além disso, no sábado acontece a primeira edição do curto-circuito!

Venham todos!

domingo, 8 de julho de 2012

Homem sob a influência

Não vou tentar saltar por cima das hélices: talvez eu não consiga escrever tudo o que quero. Já não posso assumir compromisso algum, quanto mais com a completude ou a linearidade.

Salto em triângulos, acompanho com os olhos os companheiros que na verdade não são. Giro algumas vezes, desfeito pela liberdade que a escuridão sugere. É tão difícil assim voltar a ser o que fomos um dia? Se é que fomos? Já não sei. Desde o princípio, não há lugar para a memória, talvez só aquela que as cicatrizes, sempre cheias de justificativas, retêm. Não tenho paciência para cicatrizes, e amanhã saio do teatro com algumas, às quais já polianamente me proponho ao trabalho inútil do desvencilhar.

Estalos dos pés no chão e das roupas nos corpos. No semblante alguém abrutalhado. Rugas, esgares e franzidas. No princípio, achei que seríamos menos violentos. São três disparos com o dedo, como Clint Eastwood. Olhar para frente, queixo arqueado, desejo encarar alguém. Dodô respira desritmada, e essa é a informação que consigo absorver. Me aproximo dela pela primeira vez somente para dizer nada que valha a pena; acabo me apegando a este hábito e fazendo dele uma constante irrefreável. The most exquisite agonies. Me dirijo ao corredor e me irrito com o olhar e a presença do João. Estou louco, é preciso devolver essa agressão silenciosa, estou louco. Estou animal, respiro débil, ando de quatro. Com as mãos e o quadril faço casulo tímido, animal-louco-menino. O olhar vazio só registra a imagem que não chega a lugar nenhum da minha cabeça. Desperdício.

Me levanto ainda caído... finjo que estou de pé. É tudo mentira, eu nunca mais me levantei. A partir de agora também finjo que enxergo, mas apenas vejo. Eu cego que acompanha Dodô cega. Eu histérico que acompanha Dodô frágil. Eu selvagem que acompanha Dodô enojada. Até aí, tudo o que digo, repito, não vale de nada. Talvez meus ombros sejam mais articulados do que minha boca. Talvez isso seja um fato. Então, olhar perdido, queixo para dentro, só encaro a mim mesmo e respiro até os pulmões perderem o fôlego de tanto ar. Ninguém me disse nada que pudesse interromper esse tiro, então eu disparo. Como é bom dormir. Como é doente.

Essa peça me roubou a vaidade, os quilos e a gravidade. É um ruído ético que eu nunca havia experienciado de dentro. É uma peça feia, assim como muitas coisas belas são. Percebo, fantasma, que meus dentes se amarelam. Não há mais nada a fazer. Ela é tão feia e tão bela quanto todos nós.

sábado, 7 de julho de 2012

"Consegui fazer desvanecer-se em meu espírito toda a esperança humana. Sobre toda a alegria, para estrangulá-la, dei o salto surdo da fera.

Chamei os carrascos para, perecendo, morder a coronha de seus fuzis. Chamei as calamidades, para me sufocar com areia, com o sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estendi-me na lama... Sequei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura. E a primavera me trouxe o pavoroso riso do idiota."

(Rimbaud)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Relatório semestral

As coisas que eu vou te dizer você não precisa concordar. Até porque eu quase nunca falo, então quando eu falo eu sinceramente não espero que você reaja de forma alguma. Você me incomoda também quando não reage de forma alguma – mas aí eu não posso falar nada. Na verdade, eu não tenho porque te dizer nada que não seja realmente importante, e acho que é por isso que eu acho horrível a maneira como você se autovangloria por não assistir televisão, não comer frango e não cuspir na cara dos outros. Não/não/não: eu fico mudo e cinza diante do seu hábito de reprimir meus hábitos. Que mal há nos meus hábitos que não há nos seus? O que eu disse até aqui você não precisa achar que eu enlouqueci, nem que tô oco por dentro, mas é que você nunca ri de nada que não ache realmente graça, e essa é a coisa de que mais gosto em você. Junto com a sua arrogância, e eu não espero que você pense muito sobre isso, mas a sua arrogância é das coisas mais puras e lindas que eu já vi em toda a vida, e eu tenho vontade de que você esteja rindo agora, mas sua risada nesse instante é como um acidente de automóvel do qual quero estar perto só pra coletar os restos, e desejar que você esteja rindo é quase desejar que o cinto de segurança te rasgue o pescoço. Tudo isso que eu digo, veja bem, eu não espero que você reflita sobre, nem que franza a testa especulando como pode ter saído da minha boca. Mas eu acho importante ressaltar que nada disso é uma tentativa de convencimento, mas eu acho ainda mais importante ressaltar que eu sempre te acho infantil quando me chama de imaturo. Eu não vou falar mais do que eu não gosto em você, na verdade eu não disse nada sobre gosto até agora. A gente sempre odiou o gosto (invenção ocidental), exceto nos momentos pequeno-burgueses (invenção ocidental), e a gente sempre odiou as invenções ocidentais. As palavras que eu disse até agora você só precisa entender do jeito que der, sabe como é, um pouquinho daqui, um pouquinho dali, e a gente finge que se entende. É tudo uma questão da duração de cada fala minha quando eu te digo tudo isso, e eu nunca falo dessa maneira, o que é compreensível, visto que eu quase nunca falo de maneira alguma. Eu queria também te dizer muitas coisas, mas prefiro ficar calado pelo menos até amanhã, quando a gente talvez se encontre e você com certeza diria que nada disso é responsabilidade sua, e que quem faltou com a contrapartida fui eu. Ou não. Talvez você esteja com a razão dentro da sua lógica das verdades, mas é que a verdade não aceita lógica porque ela própria é construída de rios perenes como o meu e o seu. Dentro da minha lógica das verdades, a verdade não faz sentido nenhum. Mas eu respeito a sua lógica, portanto não minto agora. É nessas horas em que passo a precisar te dar alguma resposta que me vem a agonia, mas dessa vez não. Dessa vez eu já acabei antes de você precisar pedir resposta. Eu não vou anunciar minha morte na timeline, mas isso tudo que eu digo também é seu, é meu, é deles e de todos os outros desprovidos de pronome possessivo. Essas frases que eu te disse eu acho que foram um erro. É impossível, mas é minha maneira de dizer que essa incapacidade também é sua. Eu preferia estar sozinho e você também, então a gente decidiu estar sozinhos juntos, então eu decidi estar sozinho. Acontece.

O Franco-Atirador



Para João.

terça-feira, 19 de junho de 2012

da janela do meu quarto



é sobre isso que eu estava falando, é sobre isso que falamos. é disso que tá crescendo desordenadamente dentro da gente, deste tempo do olhar, tempo de enxergar o outro, é do silêncio que precede o soco. desse hiato que a dúvida carrega. do não pensar seguido dessa brincadeira que não se sabe do arrependimento. da desistência que vêm do medo. vai machucar? sangrou aí oh!

vídeo: trecho "Da janela do meu quarto" Cao Guimarães
música: Mogwai - Auto Rock


o depois virá certeiro e sem atraso por sobre todas as coisas


im not here
this isnt happening

terça-feira, 12 de junho de 2012

choro e chumbo

"Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação,
minha quase maturidade. Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser das coisas mais tristes do mundo." Tati Bernardi

manhã.

esse desespero têm que dormir no despertar de uma nova primavera, como é que se faz para fazer a coisa mais profunda do mundo com toda esta superficialidade?


terça-feira, 15 de maio de 2012

O que Ana diria com sinceridade se não precisasse se esconder por trás da força das palavras rimadas:


Vocês não sabem o que estão fazendo.  Alguém pode sair machucado.  Pode ser que as coisas saiam de controle. Vocês não podem fazer isso. Vocês estão me privando do direito de ir e vir. Direito meu como cidadã. Eu quero saber quem são vocês. Isso é errado. Isso não está certo. Ninguém vai se dar bem no final disso tudo. A policia vai chegar. À qualquer momento. A gente pode fazer um acordo: Vocês me soltam, me entregam um trabalho na segunda e eu posso esquecer tudo isso. Tudo. Até a marca da sua boca nos meus seios.  Quem são vocês. Eu não entendo. Eu não vou chorar, se é isso que vocês necessitam. Eu estou tentando ser sincera. Por favor, me entendam. Me soltem. Eu não estou dando ordens. Eu estou lhes dando sensatez. Só isso. Não há nada de novo em mim. Isso não. Isso não faz sentido. O que vocês querem de mim? O que vocês pretendem me arrancar? Vamos voltar. Eu to com sede.  Eu to com fome. Eu to com frio. Meus pés estão tremendo. Eu. Quero. Preciso. Sair. Daqui. .Vocês. Não. Sabem. O que estão fazendo. 

Às mulheres também se ensina a repetir.


Ana


A primeira vista é um sequestro. Uma medida de força. Um confrontamento físico. Chama-se imposição, manipulação de outro corpo.  A Ana é os três, os três meninos perdidos em seus desejos. Eles são resultado da incapacidade dela de ser dialogo. É um furo no sistema educacional. É quando a nossa instituição falha. E ela tem falhado com frequência. A Ana é uma peça desse jogo, assim como eles o são.  Ela pulsa a necessidade de construir um novo amanhã, mas esquece de desconstruir hierarquias. Ela não desiste da sala de aula.  Nunca. Que pena. Só quando lhe cortam o ar com um último tiro. 

Eles são meninos perdidos, não ingênuos. São bichos ferozes que precisam responder rapidamente aos impulsos no desespero de cumprir exigências. São primitivos, à primeira vista. Assim como outros tantos alunos, tantos perdidos em suas repetições. Eles necessitam de atenção.

Eu sou esse corpo, que se confronta e se debate sobre outros corpos, os deles, ainda estranhos. Meu corpo exposto, composto de medo, dor e de um prazer continuo de ser provocação. Existe de fato o meu lugar, mulher. Esse corpo com seios e cintura marcada, que tem o cotidiano atravessado pela necessidade de se provar capaz sempre num mundo onde o pênis determina poder.

 A primavera são três homens e uma mulher. Ela queria construir neles a possibilidade de ser diferente. Eles são crianças querendo um conselho, só isso, uma canção de ninar para dormir sem a cobrança de não serem derrota. A primavera sonhada é o desejo de poder deitar-se sobre um peito e se sentir acolhido sem precisar dar respostas constantes.

Primavera leste são esses meninos viscerais que não sabem o que fazer com uma mulher que os desafia. Ela é refém, não vitima. Refém de uma fisicalidade impossível de combater com a força. É o alvo de três setas que não sabem o percurso que fazem, mas agem em desmedida. Ela está amarrada à uma cadeira e eles à ela ( ANA).  Ana é força desmedida das palavras e um medo frio para lidar com o desconhecido. Ela usurpa a si mesma. E reinventa o jogo com cada um. Não há nada de heroico em Ana, nem em Alex. Ana é para Breno um corpo-objeto onde ele deposita seu desejo de ser outro, onde ele finge poder ter poder sobre algo. Breno é para Ana a possibilidade de reverter o jogo usando a palavra e o próprio desejo dele, seu corpo. Italo faz de Ana carne a ser mastigada, e é ela quem o mastiga. Não que ela deseje isso. Ela deseja escapar. Por ela. E por outras. 

Ana torna-se constante movimento. Parada sobre uma cadeira ela move-se entre os três outros corpos. Ela é verbo. É ação movedora do desespero de cada um ali e de si própria. Move em seu silêncio e quando discursa. O silêncio é uma decisão e não uma imposição. Move e desestabiliza por ser mulher. Existe uma força nela, a força de ser mulher, dos 9 meses, do parir. Seu corpo é alvo e arma. E ela quem decide quando será cada coisa. Ela decidiu assim, porque a história   a ensinou a não ser mandada. Não há espaço para vitimização de si mesma. n]ão há choro, nem dor no útero. Tudo deve ser escondido para provar a si a potencia dos seus seios. 

Quando eles acabam, ela vira suspensão constante, incapaz de mover um fio de cabelo. Torna-se refém, finalmente, refém da necessidade de escrever diferente.  Enfim, ela pode chorar.

Ryan McGinley

MTV what have you done to me?



Save my soul, set me free
Set me free, what have you done to me?
I can't breathe, I can't sleep
 World war three, when are you coming for me?
Been kicking up sparks to set the flames free
The windows are locked now, so what'll it be?
A house on fire or rising sea?

música sobre a noite que se segue

John Wentz - Bardo Thodol

                                      quando cai chuva na primavera, é preciso olhar para cima.

Breno



Suspensão. corpo largado no espaço. o que ficou para trás e ninguém viu.
Ausência do entendimento do que ele realmente foi fazer naquele lugar com aquelas pessoas. Ficou só. Desejo de transformação que parte da vontade de lidar melhor com sua insegurança e suas escolhas. Aquela que parte do egoísmo e da carência infantil.
Pela incapacidade de saber de sí. pela incapacidade de não saber das suas escolhas. Incapacidade como consequência Um alienamento não só por questões relativas ao pensamento perante a sociedade, ou que tangem o campo da história, mas um alienamento no campo do afeto, um alienamento nas escolhas destas relações.
Foi a ausência de qualquer possibilidade  de preenchimento ao longo do caminho.
É a desistência que é feita por perguntas e não respostas.
Tarde demais para tentar lembrar de algo que não foi entendido.
Tudo é obvio a partir do momento que não se sabe, e que não se assume não saber.
É interrogatório das constantes ocultas
Tarde demais para tentar lembrar de algo que não foi entendido.
Contar essa história sem julgamento mas carregada de memória, de tornar ela viva  e potente pela força da memória, mais do que pelas questões vividas por estes personagens.  
Ali é necessário me fragilizar antes de fragilizar o outro,  para chegar perto do “como” que buscamos, não pela resposta a esta busca mas pelo experiencial desta busca, pela importância do caminho e não do final dele.
Para criar é necessário atacar e destruir o bloco de pedra.


John Wentz - King of the Bardo State

My process involves taking seemingly disparate images, which are derived from dreams and memories. These images are then synthesized on the picture plane to form a language or narrative. A systematic form of geometry is then used to give the pictures structure and unify the images giving them integrity with the rectangle that holds them.”

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Guia de ideias correlatas


(alex) Em  primavera

olhando para a autoviolência querendo sentir de novo algum gosto de hortelã.
Tenho que me tacar  no chão ou na vontade de achar essa outra possibilidade de dizer isso que não se diz. Essa pergunta que não se faz, essas coisas das quais não se fala, mas se indaga muito, muito. À Loucura, de achar o bicho que faz boicote,  destruição, suicídio. E se afastar. De longe e consciente, constatando. O Alex talvez seja assim. E por isso talvez a parte mais perversa dali,  ou talvez a parte mais rendida ao desespero pré descontrole. tenho que pensar sobre isso.
Primavera é olhar para a pulsão de morte. Para as estruturas de hierarquia e poder que se fazem nas relações, qual for. Tem-se  que aprender sobre a tortura e a frieza de se relacionar com os seres. tem que olhar para a dominação e submissão que se fazem juntas, em mim. Onde esta a fraqueza do poder .Onde ela se faz grande e quando o grande fica pequeno por ser enorme.
Tem que se produzir presença e olhar na calma de fumar um cigarro. A fala para dentro que se vive fora. As relações devem se desgastar.  Procurar o fraco dentro.
Se fazer um recanto da sala encolhido. Gritar, bater. Cair na porrada. Ser muito  testosterona. Suar. Ficar mais forte, desesperar e ficar quieto. Achar o tom e os tempos. Pausas, gestos que retiram palavras. fazer essa peça ser outra sendo essa . Peça crua.  Suja, suada.  Do de tão grande que fica enclausurado,  e fazer disso um gesto, partitura silenciosa.
Apanhar será importante. Bater também. Fumar muitos cigarros e não levar isso para vida.
EM primavera é preciso participar dessa experiência maior que é o (re)encontro de nós com a coisa teatro.  Com a coisa corpo, com a coisa dentro e fora, com a coisa olho, língua e voz, essa dança.
Em primavera é preciso fazer coisas de menino e pertencer a um grupo bandido. Em primavera é preciso limpar o chão, e pisar com delicadeza nele, sem esquecer da virilidade e força necessária para uma fraqueza real.
Em primavera será preciso olhar atento o texto e se distrair com as dramaturgias.
Em primavera será bom encher o saco da peça, dos meninos, de qualquer coisa. Trazer isso para dentro, puxar o cabelo do Lucas. Isso pode ser uma boa cena, não vai machucar de verdade. Talvez doa vez ou outra, mas machucar não.  Ser simultâneo e se preocupar com isso. Que isso seja bom. Que isso seja bom na luz.
tem escuro na peça. Acho que tem não ver na peça e para isso pode estar claro. não importa.












quinta-feira, 10 de maio de 2012

DV8 - Monochromatic Man

DV8 - Digite Aquiles

matta clark


'Eu não queria isso', diz menina estuprada dentro de sala de aula

09/05/2012 09h10 - Atualizado em 09/05/2012 14h27

Violência ocorreu na segunda-feira, em escola estadual de São Carlos, SP. Apesar de não ter ocorrido o ato sexual, caso configura-se como estupro.

 “Eu não queria isso. Portanto, eles fizeram isso com a vontade deles, não com a minha”, disse a menina de 11 anos vítima de estupro dentro da sala de aula da Escola Estadual Professor Orlando Perez, no bairro Cidade Aracy, em São Carlos (SP). A denúncia foi registrada nesta segunda-feira (7) no plantão policial pela mãe da aluna, que cursa a quinta série.

A titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), Denise Gobbi Szakal, explicou que o caso é considerado estupro de vulnerável, já que a vítima tem menos de 12 anos. “Hoje a prática de atos libidinosos ou conjunção carnal, elas se enquadram no estupro”.

A vítima, ainda assustada, contou que foi abordada por quatro colegas de classe, durante a troca de professores. “Eu comecei a me debater pra me jogar no chão, como eles eram muito fortes, eu não consegui. Um segurou a perna, com a minha perna aberta, e o outro me segurou nos braços, com os braços pra trás”.

A menina disse ainda que os meninos só pararam depois que uma inspetora chegou. De acordo com o boletim de ocorrência, tudo foi visto pelos demais alunos que também estavam na sala de aula. A estudante disse que, em nenhum momento, permitiu a violência.

A mãe da vítima disse que espera dos pais e da Justiça que os alunos sejam punidos. “Pra que isso não venha acontecer com outra criança, porque, querendo ou não, eles chegaram a passar a mão na minha filha. Só foi uma passada de mão, hoje foi só isso. Se eu não corro atrás, amanhã ou depois pode ser coisa pior”.

A direção da escola suspendeu por cinco dias os alunos acusados de participar do abuso. Segundo a polícia, três deles, que têm entre 12 e 14 anos, serão encaminhados a um centro de recuperação de menores infratores e deverão cumprir medidas socioeducativas. O outro estudante, de 11 anos, será acompanhado pelo Conselho Tutelar.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

In the Company of Men

Ítalo

Por enquanto são impressões desajeitadas que ficam na retina e na memória das panturrilhas.

São alguns moleques que já conheci algum dia na vida e uma mulher que conheço ainda hoje. Uso a palavra “moleque” porque a palavra “menino” me é, por algum motivo, muito feminina, lúdica e delicada. Então, vou sempre me referir a esses três personagens como moleques, palavra que corrobora a questão do gênero através da ausência de uma contraparte feminina válida, muito por conta de sua desqualificação formal e pelo universo infantil-marginal que dela emana. É uma tentativa de impor a masculinidade desde cedo, através de uma nominação forçosamente vadia e viril. Pois bem, esses três moleques não sabem o que fazem, e talvez se perder em todo esse não-saber-o-que-fazer seja, inconscientemente, sua principal escolha.

Meu pai me ensinou. Fico pensando no que o meu pai ensinou ao Ítalo e ao Brenno e ao Alex – decerto que muito, muito, muito que desviou-se daquilo que de fato deveria fincar na mente. Às mulheres se ensina a ser: forte, polivalente, capaz, ser. Aos homens se ensina a não ser: não ser fraco, não ser pequeno, não ser otário, não ser impotente; talvez venha daí a fraqueza inglória da dominação. E é com isso que nos vejo lidando todos os dias em sala de ensaio: com as falsas dominações, de nós três sobre a Dodô, do texto sobre nós cinco, dos nossos quatro corpos sobre nossas oito pernas.

Ítalo é um franco-atirador de si mesmo, uma falha de caráter reconfigurada para alguma falha dramatúrgica, o tipo de sujeito que está separado por um fio dos covardes que espancam gays na rua. Ou talvez seja mais um pseudo-intelectual pseudorreacionário pseudocavalheiro, desses que andam por aí nos coletivos com um livro de sebo debaixo do braço, adoram Caetano, mas não dão bom dia ao porteiro. O sujeito que, em vez de pensar, apenas pensa que pensa.

Ele é uma força dominadora bastante silenciosa, e por isso mesmo tão eficaz em sua perversão ao transferir sua dor em um único gesto determinante para o futuro das vidas daquelas pessoas. Gerador de mortes-suplício. Por isso e outras razões menos aparentes, é o algoz de toda a ação. É sozinho, mas não é só. Em sua conversa final com Ana, demonstra algum tipo de repressão afetiva e sexual que me faz querer não buscar mais justificativas para seus fascismos de moleque. A frieza com que maneja a arma e a economia com que transfere palavras à boca são indícios de sua psicopatia. Tem desejo de sangue e tara na morte, algo que, para mim, só funcionará através de alguma forma distorcida de humor – algum lugar mais seguro dentro dessa nuvem cinza e espessa. É uma vibração esquisita no fluxo presencial que esses outros corpos constroem. Talvez essa seja a casa de campo de sua família, e ele sempre desejou matar ou morrer ali.

Não existe camaradagem na relação entre eles. Alex e Ítalo são esforço deprimente de uma tentativa de manutenção de afetos que precisa se refletir em algum arroubo físico; Brenno e Ítalo são mero acidente ou disfarce – acho, inclusive, que nunca se olham durante a peça, tamanha a arrogância de Ítalo perante o comparsa. São amizades que se constroem pela força do hábito, pela inércia das relações, e acabam, por euforia ou por ausência de alegrias outras, adquirindo intensidade e frequência maior do que pedem.

Ítalo e Ana é perturbação, ignorância, incompreensão. Claramente o Ítalo não foi motivado a fazer tudo isso por conta de um zero. Me parece um teste do texto à nossa própria inteligência construir as reais intenções para eles estarem ali. Não é por conta de um zero, não é por conta de uma pergunta, não é por conta do soro da verdade. Os homens que não amavam as mulheres. Sempre penso no título desse filme que eu nunca assisti. Essa peça é uma caça às bruxas, Ítalo é um dos inquisidores e Ana é a acusada. A primeira coisa que o ignorante ignora é que a história não precisa ser repetida.  

Essa coisa que estamos tentando encenar não fui eu que pedi. Essa tentativa-e-erro diária me cansa e me alimenta, e meu corpo consente, contente, a trabalhar tanta tristeza. Ser homem é não ser dócil. Essa peça que estamos montando me lembra de algo que não sei. Por ventura extrapolasse uma resposta de mim neste instante, arrisco dizer que seria a lembrança de algo que não somos. É uma peça política, e eu não me sinto culpado.

composição