quarta-feira, 27 de junho de 2012

Relatório semestral

As coisas que eu vou te dizer você não precisa concordar. Até porque eu quase nunca falo, então quando eu falo eu sinceramente não espero que você reaja de forma alguma. Você me incomoda também quando não reage de forma alguma – mas aí eu não posso falar nada. Na verdade, eu não tenho porque te dizer nada que não seja realmente importante, e acho que é por isso que eu acho horrível a maneira como você se autovangloria por não assistir televisão, não comer frango e não cuspir na cara dos outros. Não/não/não: eu fico mudo e cinza diante do seu hábito de reprimir meus hábitos. Que mal há nos meus hábitos que não há nos seus? O que eu disse até aqui você não precisa achar que eu enlouqueci, nem que tô oco por dentro, mas é que você nunca ri de nada que não ache realmente graça, e essa é a coisa de que mais gosto em você. Junto com a sua arrogância, e eu não espero que você pense muito sobre isso, mas a sua arrogância é das coisas mais puras e lindas que eu já vi em toda a vida, e eu tenho vontade de que você esteja rindo agora, mas sua risada nesse instante é como um acidente de automóvel do qual quero estar perto só pra coletar os restos, e desejar que você esteja rindo é quase desejar que o cinto de segurança te rasgue o pescoço. Tudo isso que eu digo, veja bem, eu não espero que você reflita sobre, nem que franza a testa especulando como pode ter saído da minha boca. Mas eu acho importante ressaltar que nada disso é uma tentativa de convencimento, mas eu acho ainda mais importante ressaltar que eu sempre te acho infantil quando me chama de imaturo. Eu não vou falar mais do que eu não gosto em você, na verdade eu não disse nada sobre gosto até agora. A gente sempre odiou o gosto (invenção ocidental), exceto nos momentos pequeno-burgueses (invenção ocidental), e a gente sempre odiou as invenções ocidentais. As palavras que eu disse até agora você só precisa entender do jeito que der, sabe como é, um pouquinho daqui, um pouquinho dali, e a gente finge que se entende. É tudo uma questão da duração de cada fala minha quando eu te digo tudo isso, e eu nunca falo dessa maneira, o que é compreensível, visto que eu quase nunca falo de maneira alguma. Eu queria também te dizer muitas coisas, mas prefiro ficar calado pelo menos até amanhã, quando a gente talvez se encontre e você com certeza diria que nada disso é responsabilidade sua, e que quem faltou com a contrapartida fui eu. Ou não. Talvez você esteja com a razão dentro da sua lógica das verdades, mas é que a verdade não aceita lógica porque ela própria é construída de rios perenes como o meu e o seu. Dentro da minha lógica das verdades, a verdade não faz sentido nenhum. Mas eu respeito a sua lógica, portanto não minto agora. É nessas horas em que passo a precisar te dar alguma resposta que me vem a agonia, mas dessa vez não. Dessa vez eu já acabei antes de você precisar pedir resposta. Eu não vou anunciar minha morte na timeline, mas isso tudo que eu digo também é seu, é meu, é deles e de todos os outros desprovidos de pronome possessivo. Essas frases que eu te disse eu acho que foram um erro. É impossível, mas é minha maneira de dizer que essa incapacidade também é sua. Eu preferia estar sozinho e você também, então a gente decidiu estar sozinhos juntos, então eu decidi estar sozinho. Acontece.

O Franco-Atirador



Para João.

terça-feira, 19 de junho de 2012

da janela do meu quarto



é sobre isso que eu estava falando, é sobre isso que falamos. é disso que tá crescendo desordenadamente dentro da gente, deste tempo do olhar, tempo de enxergar o outro, é do silêncio que precede o soco. desse hiato que a dúvida carrega. do não pensar seguido dessa brincadeira que não se sabe do arrependimento. da desistência que vêm do medo. vai machucar? sangrou aí oh!

vídeo: trecho "Da janela do meu quarto" Cao Guimarães
música: Mogwai - Auto Rock


o depois virá certeiro e sem atraso por sobre todas as coisas


im not here
this isnt happening

terça-feira, 12 de junho de 2012

choro e chumbo

"Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação,
minha quase maturidade. Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser das coisas mais tristes do mundo." Tati Bernardi

manhã.

esse desespero têm que dormir no despertar de uma nova primavera, como é que se faz para fazer a coisa mais profunda do mundo com toda esta superficialidade?