Blog do processo do espetáculo "Primavera Leste" que estreou dia 6 de julho de 2012. "Não há uma única resposta. O espetáculo se constrói através de uma pesquisa voltada para a necessidade de desenvolver uma forma autônoma de ser e estar no vazio e na solidão de uma ação e do espaço cênico. Primavera é uma visita a sensorialidade da violência dos acontecimentos apresentados."
quinta-feira, 31 de maio de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Irreversível
O YouTube não me deixou embed, então segue o link aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Adcc62-3e1I
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Florian Imgrund
Tem alguma coisa meio Lars Von Trier nessas imagens que me faz repensar seus últimos dois filmes e sua relação com a nossa peça.
terça-feira, 15 de maio de 2012
O que Ana diria com sinceridade se não precisasse se esconder por trás da força das palavras rimadas:
Vocês não sabem o que estão
fazendo. Alguém pode sair
machucado. Pode ser que as coisas saiam
de controle. Vocês não podem fazer isso. Vocês estão me privando do direito de
ir e vir. Direito meu como cidadã. Eu quero saber quem são vocês. Isso é
errado. Isso não está certo. Ninguém vai se dar bem no final disso tudo. A
policia vai chegar. À qualquer momento. A gente pode fazer um acordo: Vocês me
soltam, me entregam um trabalho na segunda e eu posso esquecer tudo isso. Tudo.
Até a marca da sua boca nos meus seios. Quem
são vocês. Eu não entendo. Eu não vou chorar, se é isso que vocês necessitam.
Eu estou tentando ser sincera. Por favor, me entendam. Me soltem. Eu não estou
dando ordens. Eu estou lhes dando sensatez. Só isso. Não há nada de novo em
mim. Isso não. Isso não faz sentido. O que vocês querem de mim? O que vocês pretendem
me arrancar? Vamos voltar. Eu to com sede. Eu to com fome. Eu to com frio. Meus pés estão
tremendo. Eu. Quero. Preciso. Sair. Daqui. .Vocês. Não. Sabem. O que estão fazendo.
Ana
A primeira vista é um sequestro. Uma medida de força. Um confrontamento físico. Chama-se imposição, manipulação de outro corpo. A Ana é os três, os três meninos perdidos em seus desejos. Eles são resultado da incapacidade dela de ser dialogo. É um furo no sistema educacional. É quando a nossa instituição falha. E ela tem falhado com frequência. A Ana é uma peça desse jogo, assim como eles o são. Ela pulsa a necessidade de construir um novo amanhã, mas esquece de desconstruir hierarquias. Ela não desiste da sala de aula. Nunca. Que pena. Só quando lhe cortam o ar com um último tiro.
Eles são meninos perdidos, não ingênuos. São bichos ferozes que precisam responder rapidamente aos impulsos no desespero de cumprir exigências. São primitivos, à primeira vista. Assim como outros tantos alunos, tantos perdidos em suas repetições. Eles necessitam de atenção.
Eu sou esse corpo, que se confronta e se debate sobre outros corpos, os deles, ainda estranhos. Meu corpo exposto, composto de medo, dor e de um prazer continuo de ser provocação. Existe de fato o meu lugar, mulher. Esse corpo com seios e cintura marcada, que tem o cotidiano atravessado pela necessidade de se provar capaz sempre num mundo onde o pênis determina poder.
A primavera são três homens e uma mulher. Ela queria construir neles a possibilidade de ser diferente. Eles são crianças querendo um conselho, só isso, uma canção de ninar para dormir sem a cobrança de não serem derrota. A primavera sonhada é o desejo de poder deitar-se sobre um peito e se sentir acolhido sem precisar dar respostas constantes.
Primavera leste são esses meninos viscerais que não sabem o que fazer com uma mulher que os desafia. Ela é refém, não vitima. Refém de uma fisicalidade impossível de combater com a força. É o alvo de três setas que não sabem o percurso que fazem, mas agem em desmedida. Ela está amarrada à uma cadeira e eles à ela ( ANA). Ana é força desmedida das palavras e um medo frio para lidar com o desconhecido. Ela usurpa a si mesma. E reinventa o jogo com cada um. Não há nada de heroico em Ana, nem em Alex. Ana é para Breno um corpo-objeto onde ele deposita seu desejo de ser outro, onde ele finge poder ter poder sobre algo. Breno é para Ana a possibilidade de reverter o jogo usando a palavra e o próprio desejo dele, seu corpo. Italo faz de Ana carne a ser mastigada, e é ela quem o mastiga. Não que ela deseje isso. Ela deseja escapar. Por ela. E por outras.
Ana torna-se constante movimento. Parada sobre uma cadeira ela move-se entre os três outros corpos. Ela é verbo. É ação movedora do desespero de cada um ali e de si própria. Move em seu silêncio e quando discursa. O silêncio é uma decisão e não uma imposição. Move e desestabiliza por ser mulher. Existe uma força nela, a força de ser mulher, dos 9 meses, do parir. Seu corpo é alvo e arma. E ela quem decide quando será cada coisa. Ela decidiu assim, porque a história a ensinou a não ser mandada. Não há espaço para vitimização de si mesma. n]ão há choro, nem dor no útero. Tudo deve ser escondido para provar a si a potencia dos seus seios.
Quando eles acabam, ela vira suspensão constante, incapaz de mover um fio de cabelo. Torna-se refém, finalmente, refém da necessidade de escrever diferente. Enfim, ela pode chorar.
MTV what have you done to me?
Save my soul, set me free
Set me free, what have you done to me?
I can't breathe, I can't sleep
World war three, when are you coming for me?
Been kicking up sparks to set the flames free
The windows are locked now, so what'll it be?
A house on fire or rising sea?
Breno
Suspensão. corpo largado no espaço. o que ficou para trás e
ninguém viu.
Ausência do entendimento do que ele realmente foi fazer naquele
lugar com aquelas pessoas. Ficou só. Desejo de transformação que parte da
vontade de lidar melhor com sua insegurança e suas escolhas. Aquela que parte
do egoísmo e da carência infantil.
Pela incapacidade de saber de sí. pela incapacidade de não
saber das suas escolhas. Incapacidade como consequência Um alienamento não só
por questões relativas ao pensamento perante a sociedade, ou que tangem o campo
da história, mas um alienamento no campo do afeto, um alienamento nas escolhas
destas relações.
Foi a ausência de qualquer possibilidade de preenchimento ao longo do caminho.
É a desistência que é feita por perguntas e não respostas.
Tarde demais para tentar lembrar de algo que não foi
entendido.
Tudo é obvio a partir do momento que não se sabe, e que não
se assume não saber.
É interrogatório das constantes ocultas
Tarde demais para tentar lembrar de algo que não foi entendido.
Contar essa história sem julgamento mas carregada de memória,
de tornar ela viva e potente pela força
da memória, mais do que pelas questões vividas por estes personagens.
Ali é necessário me fragilizar antes de fragilizar o
outro, para chegar perto do “como” que
buscamos, não pela resposta a esta busca mas pelo experiencial desta busca,
pela importância do caminho e não do final dele.
Para criar é necessário atacar e destruir o bloco de pedra.
John Wentz - King of the Bardo State
“My process involves taking seemingly disparate images, which are derived from dreams and memories. These images are then synthesized on the picture plane to form a language or narrative. A systematic form of geometry is then used to give the pictures structure and unify the images giving them integrity with the rectangle that holds them.”
segunda-feira, 14 de maio de 2012
sexta-feira, 11 de maio de 2012
(alex) Em primavera
olhando para a autoviolência
querendo sentir de novo algum gosto de hortelã.
Tenho que me tacar no chão ou na vontade de achar essa
outra possibilidade de dizer isso que não se diz. Essa pergunta que não se faz,
essas coisas das quais não se fala, mas se indaga muito, muito. À Loucura, de
achar o bicho que faz boicote,
destruição, suicídio. E se afastar. De longe e consciente, constatando.
O Alex talvez seja assim. E por isso talvez a parte mais perversa dali, ou talvez a parte mais rendida ao
desespero pré descontrole. tenho que pensar sobre isso.
Primavera é olhar para a pulsão
de morte. Para as estruturas de hierarquia e poder que se fazem nas relações,
qual for. Tem-se que aprender
sobre a tortura e a frieza de se relacionar com os seres. tem que olhar para a
dominação e submissão que se fazem juntas, em mim. Onde esta a fraqueza do
poder .Onde ela se faz grande e quando o grande fica pequeno por ser enorme.
Tem que se produzir presença e
olhar na calma de fumar um cigarro. A fala para dentro que se vive fora. As
relações devem se desgastar.
Procurar o fraco dentro.
Se fazer um recanto da sala
encolhido. Gritar, bater. Cair na porrada. Ser muito testosterona. Suar. Ficar mais forte, desesperar e ficar
quieto. Achar o tom e os tempos. Pausas, gestos que retiram palavras. fazer
essa peça ser outra sendo essa . Peça crua. Suja, suada. Do
de tão grande que fica enclausurado,
e fazer disso um gesto, partitura silenciosa.
Apanhar será importante. Bater
também. Fumar muitos cigarros e não levar isso para vida.
EM primavera é preciso participar
dessa experiência maior que é o (re)encontro de nós com a coisa teatro. Com a coisa corpo, com a coisa dentro e
fora, com a coisa olho, língua e voz, essa dança.
Em primavera é preciso fazer coisas
de menino e pertencer a um grupo bandido. Em primavera é preciso limpar o chão,
e pisar com delicadeza nele, sem esquecer da virilidade e força necessária para
uma fraqueza real.
Em primavera será preciso olhar
atento o texto e se distrair com as dramaturgias.
Em primavera será bom encher o
saco da peça, dos meninos, de qualquer coisa. Trazer isso para dentro, puxar o
cabelo do Lucas. Isso pode ser uma boa cena, não vai machucar de verdade.
Talvez doa vez ou outra, mas machucar não. Ser simultâneo e se preocupar com isso. Que isso seja bom.
Que isso seja bom na luz.
tem escuro na peça. Acho que tem
não ver na peça e para isso pode estar claro. não importa.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
'Eu não queria isso', diz menina estuprada dentro de sala de aula
09/05/2012 09h10 - Atualizado em 09/05/2012 14h27
Violência ocorreu na segunda-feira, em escola estadual de São Carlos, SP.
Apesar de não ter ocorrido o ato sexual, caso configura-se como estupro.
“Eu não queria isso. Portanto, eles fizeram isso com a vontade deles, não com a minha”, disse a menina de 11 anos vítima de estupro dentro da sala de aula da Escola Estadual Professor Orlando Perez, no bairro Cidade Aracy, em São Carlos (SP). A denúncia foi registrada nesta segunda-feira (7) no plantão policial pela mãe da aluna, que cursa a quinta série.
A titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), Denise Gobbi Szakal, explicou que o caso é considerado estupro de vulnerável, já que a vítima tem menos de 12 anos. “Hoje a prática de atos libidinosos ou conjunção carnal, elas se enquadram no estupro”.
A vítima, ainda assustada, contou que foi abordada por quatro colegas de classe, durante a troca de professores. “Eu comecei a me debater pra me jogar no chão, como eles eram muito fortes, eu não consegui. Um segurou a perna, com a minha perna aberta, e o outro me segurou nos braços, com os braços pra trás”.
A menina disse ainda que os meninos só pararam depois que uma inspetora chegou. De acordo com o boletim de ocorrência, tudo foi visto pelos demais alunos que também estavam na sala de aula. A estudante disse que, em nenhum momento, permitiu a violência.
A mãe da vítima disse que espera dos pais e da Justiça que os alunos sejam punidos. “Pra que isso não venha acontecer com outra criança, porque, querendo ou não, eles chegaram a passar a mão na minha filha. Só foi uma passada de mão, hoje foi só isso. Se eu não corro atrás, amanhã ou depois pode ser coisa pior”.
A direção da escola suspendeu por cinco dias os alunos acusados de participar do abuso. Segundo a polícia, três deles, que têm entre 12 e 14 anos, serão encaminhados a um centro de recuperação de menores infratores e deverão cumprir medidas socioeducativas. O outro estudante, de 11 anos, será acompanhado pelo Conselho Tutelar.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Ítalo
Por enquanto são impressões
desajeitadas que ficam na retina e na memória das panturrilhas.
São alguns
moleques que já conheci algum dia na vida e uma mulher que conheço ainda hoje. Uso
a palavra “moleque” porque a palavra “menino” me é, por algum motivo, muito
feminina, lúdica e delicada. Então, vou sempre me referir a esses três
personagens como moleques, palavra que corrobora a questão do gênero através da
ausência de uma contraparte feminina válida, muito por conta de sua
desqualificação formal e pelo universo infantil-marginal que dela emana. É uma
tentativa de impor a masculinidade desde cedo, através de uma nominação
forçosamente vadia e viril. Pois bem, esses três moleques não sabem o que fazem,
e talvez se perder em todo esse não-saber-o-que-fazer seja, inconscientemente, sua
principal escolha.
Meu pai me
ensinou. Fico pensando no que o meu pai ensinou ao Ítalo e ao Brenno e ao Alex
– decerto que muito, muito, muito que desviou-se daquilo que de fato deveria fincar
na mente. Às mulheres se ensina a ser: forte, polivalente, capaz, ser. Aos
homens se ensina a não ser: não ser fraco, não ser pequeno, não ser otário, não
ser impotente; talvez venha daí a fraqueza inglória da dominação. E é com isso
que nos vejo lidando todos os dias em sala de ensaio: com as falsas dominações,
de nós três sobre a Dodô, do texto sobre nós cinco, dos nossos quatro corpos
sobre nossas oito pernas.
Ítalo é um
franco-atirador de si mesmo, uma falha de caráter reconfigurada para alguma
falha dramatúrgica, o tipo de sujeito que está separado por um fio dos covardes
que espancam gays na rua. Ou talvez seja mais um pseudo-intelectual
pseudorreacionário pseudocavalheiro, desses que andam por aí nos coletivos com
um livro de sebo debaixo do braço, adoram Caetano, mas não dão bom dia ao
porteiro. O sujeito que, em vez de pensar, apenas pensa que pensa.
Ele é uma força
dominadora bastante silenciosa, e por isso mesmo tão eficaz em sua perversão ao
transferir sua dor em um único gesto determinante para o futuro das vidas
daquelas pessoas. Gerador de mortes-suplício. Por isso e outras razões menos
aparentes, é o algoz de toda a ação. É sozinho, mas não é só. Em sua
conversa final com Ana, demonstra algum tipo de repressão afetiva e sexual que
me faz querer não buscar mais justificativas para seus fascismos de moleque. A
frieza com que maneja a arma e a economia com que transfere palavras à boca são
indícios de sua psicopatia. Tem desejo de sangue e tara na morte, algo que,
para mim, só funcionará através de alguma forma distorcida de humor – algum
lugar mais seguro dentro dessa nuvem cinza e espessa. É uma vibração esquisita
no fluxo presencial que esses outros corpos constroem. Talvez essa seja a casa
de campo de sua família, e ele sempre desejou matar ou morrer ali.
Não existe
camaradagem na relação entre eles. Alex e Ítalo são esforço deprimente de uma
tentativa de manutenção de afetos que precisa se refletir em algum arroubo
físico; Brenno e Ítalo são mero acidente ou disfarce – acho, inclusive, que
nunca se olham durante a peça, tamanha a arrogância de Ítalo perante o comparsa.
São amizades que se constroem pela força do hábito, pela inércia das relações,
e acabam, por euforia ou por ausência de alegrias outras, adquirindo
intensidade e frequência maior do que pedem.
Ítalo e Ana é
perturbação, ignorância, incompreensão. Claramente o Ítalo não foi motivado a
fazer tudo isso por conta de um zero. Me parece um teste do texto à nossa
própria inteligência construir as reais intenções para eles estarem ali. Não é
por conta de um zero, não é por conta de uma pergunta, não é por conta do soro
da verdade. Os homens que não amavam as mulheres. Sempre penso no título desse
filme que eu nunca assisti. Essa peça é uma caça às bruxas, Ítalo é um dos
inquisidores e Ana é a acusada. A primeira coisa que o ignorante ignora é que a
história não precisa ser repetida.
Essa coisa que estamos tentando encenar não fui eu que
pedi. Essa tentativa-e-erro diária me cansa e me alimenta, e meu corpo
consente, contente, a trabalhar tanta tristeza. Ser homem é não ser dócil. Essa peça que estamos montando me lembra de algo que não
sei. Por ventura extrapolasse uma resposta de mim neste instante, arrisco dizer
que seria a lembrança de algo que não somos. É uma peça política, e eu não me
sinto culpado.
Mauvais Sang
http://www.youtube.com/watch?v=gt2KlkBUgXA
gosto muito como referência de luz e espaço.
denis levant - boca fechada -, nesta personagem, afirma ter concreto no estômago (se não me engano o órgão).
gosto muito como referência de luz e espaço.
denis levant - boca fechada -, nesta personagem, afirma ter concreto no estômago (se não me engano o órgão).
segunda-feira, 7 de maio de 2012
domingo, 6 de maio de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
quinta-feira, 3 de maio de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
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